segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Igreja Matriz de Mangualde: a classificação nunca decretada

Hoje republico um texto já publicado no jornal Renascimento, de Mangualde, revisto e actualizado para ser inserido na minha dissertação de mestrado sobre o Património Cultural do concelho de Mangualde.

Em 1934 corriam obras na Igreja Matriz de Mangualde que colocaram a descoberto a cachorrada da fachada lateral, notando-se assim, ainda mais, a sua medievalidade.
D. Beatriz Pais de visita a Mangualde deslocou-se à Igreja Matriz e vendo a cachorrada comentou o assunto com quem estava “à frente” do jornal Renascimento. Logo este jornal solicitou um artigo de fundo sobre a Igreja Matriz ao Dr. Valentim da Silva, que já antes tinha escrito para as páginas daquele jornal sobre a história local.
Entretanto a D.ª Beatriz Pais levou o original do artigo e fotografias que mostrou ao D. José Pessanha, membro do Conselho Superior de Belas Artes, que logo decidiu propor a classificação da Igreja como Monumento Nacional.
Assim, na sessão de 11 de Outubro foi presente a referida proposta que foi aprovada por unanimidade na sessão de 19 de Novembro 1934, e depois homologada a 15 de Dezembro pelo Ministro da Instrução Pública, Eusébio Tamagnini. Nesta proposta era invocado como motivo de classificação o facto de ainda "conservar interessantíssimos trechos de primitiva edificação, de estilo românico." No processo encontra-se a minuta do decreto de classificação que terá sido assinado em fins de 1934 ou inícios de 1935, mas que por qualquer motivo nunca foi publicado.
Na última notícia publicada sobre este assunto, a 15 de Janeiro, o Renascimento agradecia o empenho e interesse da D.ª Beatriz Pais e informava que a notícia da assinatura do Decreto de Classificação "não entusiasmou de mais a gente da nossa terra, em especial o meio católico, receoso d'algumas modificações que possas prejudicar o culto no mesmo templo. Estamos informados que as regalias dos fiéis não sofrem dano e a igreja beneficiará muitíssimo no seu aspecto geral. Alguém trabalha para que seja concedido um subsidio, o maior possível, de forma a que as obras se façam rapidamente, mas dentro dum plano criteriosamente estudado."
Como o decreto nunca foi publicado, esta classificação nunca teve eficácia, tendo sido classificada em 1983 como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto do Governo n.º 31/83, de 9 de Maio, no seguimento de outro processo, ao qual aludiremos mais adiante.

domingo, 26 de agosto de 2007

Olhando um pouco mais longe.

Saindo um pouco do meu campo de visão desdea Ribeira.

Para um bispo peculiar, um báculo peculiar. Vejam aqui

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Foral de Azurara: 1102 ou [1109-1112]

Este fim de semana decorreu no burgo mangualdense mais uma edição da Feira Medieval de Mangualde.
Não irei tecer qualquer comentário sobre ela. Já o fiz aqui neste blog, e sobre as feiras medievais em geral concordo com o que referiu o Al Cardoso, entre outros.
O que me leva hoje a escrever é a data de outorga do Foral de Azurara. Em 2002 comemoraram-se os 900 anos, e em cada edição da Feira Medieval lá vem o ano de 1102 como data da outorga do Foral.
Mas esta não foi a data de outorga do Foral!
Não temos hoje o original do Foral, mas sim uma cópia do mesmo. Foi a partir da data que consta desta cópia, que não é totalmente perceptível, que se chegou ao ano 1102.
Pedro Azevedo ao publicar os Documentos Medievais Portugueses, onde consta o Foral de Azurara, fez a critica de todos os documentos.
No caso do Foral de Azurara chegou à conclusão que aquela data não poderia ser. Pois, um dos outorgantes, o bispo D. Gonçalo Pais, só foi nomeado bispo em 1109. Por isso a data mais recuada que o foral poderia ter seria de 1109. Dos outros outurgantes o primeiro a falecer foi o D. Henrique, em 1112. Por isso é utilizado para datar o foral de Azurara o intervalo temporal [1109-1112].
Almeida Fernandes numa conferência sua, lida pela filha Flávia, na Escola Secundária de Mangualde vai mais longe admitindo como data de outorga o ano de 1109, o tal em que terá nascido em Viseu D. Afonso Henriques.
Para chegar a esta data Almeida Fernande baseou-se na transição de Santar do território de Azurara, no qual aparece num documento de 1103, para o de Senhorim, como refere um documento de 1110. Tal transição deveria ter-se devido à definição de fronteiras entre os dois territórios depois da outorga do foral a um deles, neste caso a Azurara.
Esta conferência está publicada no Mangual: Boletim Informativo da Escola Secundária de Mangualde, Ano V, n.º 1, Maio 1993.
Nota: Este post foi alterado. Antes figurava D. Hugo como tendo sido nomeado bispo em 1109. D. Gonçalo Pais é que foi nomeado bispo em 1109. Também constava 800 anos de foral, quando de facto se festejaram os 900 anos.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

7 maravilhas de Penalva do Castelo: resultado

Os resultados já foram apurados e a vencedora foi: Casa da Ínsua.

Os resultados poderão ser vistos aqui.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Curiosidades da Carta Administrativa

A Carta Administrativa Oficial de Portugal, CAOP, estabelece os limites oficiais das freguesias, concelhos e distritos.

A CAOP teve a sua primeira versão em 2001 e a actual versão, a n.º 6, data de Julho deste ano. A elaboração da CAOP é da responsabilidade do Instituto Geográfico de Portugal.

Ao georeferênciar alguns sítios através do visualizador do IGP reparei que três deles, ou melhor dois porque um já eu sabia, não pertenciam à freguesia a que normalmente são atribuídos.

Refiro-me aos seguintes casos (clique nas imagens para as ver ampliadas):

Capela de N.ª Sr.ª do Bom Sucesso (Chãs de Tavares/São João da Fresta)

Pela CAOP grande parte desta capela, incluindo a entrada principal, pertence à freguesia de S. João da Fresta.

Castro da Paramuna (Esmolfe/Castelo de Penalva)

O cume do Monte onde se implantou um castro e hoje se encontra um cruzeiro e um vértice geodésico, não pertence à freguesia de Esmolfe mas sim à de Castelo de Penalva.


Cruzeiro do Alto da Serra (Real/Castelo de Penalva)

Este Cruzeiro que foi construido por um realense, e onde muitas crianças e jovens da freguesia brincaram, localiza-se segundo a CAOP na freguesia de Castelo de Penalva.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

7 Maravilha de Penalva e o caso da Ponte do Castelo



Já anteriormente me referi aqui à votação das 7 maravilhas do concelho de Mangualde. Hoje vou falar da congénere eleição promovida pela Câmara Municipal de Penalva do Castelo para o respectivo concelho.
Não sei há quanto tempo está em linha a eleição, pois só hoje olhei para o painel de votações do sítio na Internet desta edilidade.

Se considerei a lista colocada a votos no concelho de Mangualde redutora, a de Penalva ainda mais redutora é, pois apenas permite escolher de uma lista de 11 candidatos.

Neste caso não iremos tecer considerações sobre a forma da votação, pois não se trata de uma iniciativa com amplitude que a que foi projectada para Mangualde, mas sim de mais uma simples votação no sítio da Câmara Municipal. Se repararem periodicamente existe neste sítio uma votação diferente.

Apenas teceremos dois comentários sobre dois dos candidatos:

1 – Sepulturas escavadas na rocha
Que sepulturas serão? Todas as sepulturas que existem no concelho?

2 – Ponte Romana
Onde existe uma ponte romana no concelho? Será que se referem à Ponte do Castelo?
Se é, gostaria de esclarecer que esta ponte não é romana, foi feita no séc. XVII.
Como refiro no levantamento que diz para a ex-DGEMN, com base em documentação publicada por Alexandre Alves, em 1645 Manuel Fernandes, construtor da ponte, passou uma procuração a António d'Alvares, de Pindo de Baixo, e a outro, para que recebessem o dinheiro referente à Ponte do Castelo de Penalva.
Mas já João da Inês Vaz na sua tese de doutoramento, defendida em 1993 e publicada em 1997, refere que apesar de Fernando Leite, Moreira de Figueiredo e Jorge de Alarcão referirem esta ponte como romana, “nada há, no entanto, que possa confirmar aquela origem e por isso não lhe fazermos qualquer outra referência”.
O mesmo investigador defendeu a não romanidade da ponte numa conferência que fez em Castelo de Penalva, em 1994 no âmbito do Dia Cultural da Freguesia promovido pela Associação Cultural de Castro de Pena Alba, que mais tarde veria a publicar conjuntamente com as restantes conferências deste dia em 1997. Nesta conferência, segundo o texto publicado, João Vaz, além do que refere na sua tese, diz que aqueles autores (Leite, Moreira e Alarcão) se basearam no facto de a ponte ser constituída por um único arco redondo. A isto poderia contrapor-se que até ao século XVIII muitas foram as pontes deste género que se construíram em Portugal (...). Refere o mesmo ao autor mais à frente que por um lado não pode afirmar a romanidade da ponte, mas por outro também a não nega.
O facto de ela ter sido construída no séc. XVII não quer dizer que ela não tenha sido construída sobre os alicerces de uma ponte romana. Até porque segundo João Vaz por aqui deveria passar uma via secundária.